A Educação Pública Ainda é Caótica




Todo mundo já tá cansado de ouvir coisas negativas a respeito da educação pública do Brasil. São escolas sem professores, sem material didático, com estrutura precária e uma infinidade de problemas que assolam essa rede de ensino. Entretanto, ouvir falar não basta, é necessário estar no cotidiano das crianças que estudam nessas instituições, para entender um pouco da realidade vivida por elas. E, é essa experiência da qual eu tentarei narrar para vocês, pois estou ensinando numa escola pública próxima da minha residência e estou perplexo com a realidade dos jovens que dependem do colégio para ter um futuro mais promissor.

Como o próprio nome já diz, as escolas públicas atendem as pessoas que não dispõem de recursos financeiros para pagar uma particular. Essas sedes educacionais estão geralmente localizadas nas partes mais pobres do país, ou seja, nas periferias. Com isso, o aluno já nasce com o primeiro desafio: sobreviver no ambiente onde mora que, muitas vezes, é cercado pela violência, desemprego, miséria e outros tantos problemas que acometem a massa mais desprovida da população. O outro desafio dele é encontrar uma saída que o leve para um caminho mais seguro e que dê as ferramentas necessárias para transformar a sua realidade. Aí entra a escola.

Nesse quesito, lamentavelmente, as escolas públicas não estão desempenhando muito bem o seu papel. Dentre as causas que me levam a afirmar isso está à própria escola como irradiadora de conhecimento. Essa instituição se entregou a números estatísticos que tentam falsear os erros cometidos por ela no que se refere à educação. Isto porque, constantemente é divulgada alguma noticia dizendo que o Brasil está diminuindo os seus índices de analfabetismo, que a educação cresce a todo o momento, entre outros dados que tentam mascarar a verdadeira realidade educacional do país.

Na verdade, o que eu vejo na escola na qual leciono é bem diferente. São crianças entre 9 e 12 anos de idade que ainda estão na alfabetização e que, a maioria, não sabe nem ler. Esse problema toma maiores proporções quando a idade dos jovens vai aumentando. Entre 13 e 18 anos de idade é fácil detectar a deficiência de aprendizagem no que se refere a matérias básicas como português e matemática. Os alunos não conseguem responder os cálculos mais simples, nem tão pouco são capazes de interpretar um texto, pois apresentam uma grande deficiência na leitura. E onde está a escola que não percebe essas falhas no ensino?

A resposta é simples, não está. A escola é omissa em vários aspectos. O primeiro, na minha visão, é a falta de acompanhamento da realidade do aluno fora dos seus muros. O segundo ponto é a falta de cobranças, por parte do colégio para com os pais desses alunos. Deve haver uma interação conjunta entre esses dois pilares, pais e escola, tão importantes para a formação da criança, para que os problemas educacionais sejam atenuados. E o terceiro ponto é o governo que prefere mascarar a realidade da escola, do que encara-la de frente, no intuito de encontrar uma solução imediata para solucionar as mazelas do ensino.

Lá onde eu dou aula, ocorre isso e um pouco mais. A direção não está nem um pouco preocupada com o desempenho dos alunos. O quadro docente é composto por poucos professores formados, pois a maioria é estagiário, ou seja, pessoas inexperientes que assumem uma sala de aula sem ter um real preparo. Em meio a isso, ainda tem a família das crianças que, geralmente não tem a devida estrutura para guiar o curso desses problemas para um caminho mais seguro. O resultado não poderia ser pior para o aluno: repetência, notas baixas e aprovações errôneas para séries mais avançadas.

No meio disso tudo só existe uma vitima, o aluno. Ele não tem culpa se a escola é omissa, se o governo não desempenha bem o seu papel, nem tão pouco se os seus pais não conseguem orientá-lo corretamente. Ele fica nesse fogo cruzado, sendo usado como marionete de um lado para outro, aguardando passivamente que ocorra alguma melhora. Enquanto isso não acontece, a sociedade prefere acreditar que a educação está melhorando e que o Brasil está se igualando aos países de primeiro mundo, dos quais erradicaram a quase zero os índices de analfabetismo. Ledo engano. A realidade é bem diferente e está longe de ser solucionada.

Por isso, acredito que não existe uma fórmula mágica para resolver os reais problemas educacionais do Brasil. Não adianta investir milhões e milhões sem acompanhar o aprendizado dessas crianças no seu dia-a-dia. Não adianta encher as manchetes jornalísticas com números mentirosos, para tentar ludibriar a sociedade. O que a educação precisa é de mãos firmes e competentes que tomem as rédeas do ensino e o guiem para o caminho da verdade, do aprendizado. Enquanto isso não acontece, vivemos a ilusão de que a educação do país está melhorando. Tolice! Sugiro a você uma visitinha a uma escola pública, para perceber o quão verídicas são as minhas palavras.


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