A história do Brasil é marcada de eventos marcantes que foram cruciais para a formação da pátria tal qual a conhecemos hoje. Nessa trajetória, muitos erros foram cometidos no passado, para que no presente e, consequentemente no futuro, não fossem repetidos. No entanto, infelizmente certas falhas ainda continuam a acontecer em pleno século XXI, com o mesmo imediatismo, imposição e desconhecimento dos nossos colonizadores quando aqui aportaram. Dito de outra forma, falo das “verdades” culturais que foram forçosamente impregnadas em nossas terras, como instâncias absolutas a serem seguidas à risca. Dentre elas, a principal foi indubitavelmente a Religião, impelindo uma nova forma de adoração que iria mudar definitivamente o curso da fé em nosso país.
A opressão religiosa sofrida pelos nativos dessa terra, no tão famoso e turbulento período da catequese, parece que não ficou restrito ao Brasil quinhentista daquela época, uma vez que hoje as Religiões continuam com a filosofia catequética de outrora. Na realidade, atualmente há uma bifurcação no conceito de adoração. Se por um lado há um grupo dedicado a angariar fieis comprometidos com as causas divinas e com a responsabilidade de disseminar o amor, a solidariedade e o respeito ao próximo. Características estas típicas dos filhos de Deus. Há, por outro lado, uma parcela de religiosos que pouco se preocupam com tais ideologias. Para estes o que realmente importa é a conquista de mais seguidores, pois eles serão cruciais para a ampliação de doutrinas particulares, promovendo não a fé individual, mas sim os dogmas das Igrejas das quais eles fazem parte. É nessa relação que surgi à diferença cabal entre ter fé e ser seguidor de uma filosofia.
Fé, como se sabe, é algo inabalável, indescritível, incompreensível, indomável. Fenômeno sobrenatural que vai além das perspectivas racionalizadas do homem. Ferramenta única e intransponível de amor. Elo psicodélico entre os mortais e algo superior, divino, eterno e que tem o poder de confortar as nossas angústias, de solucionar os nossos problemas, de afagar a dor que muitas vezes feri as nossas almas. Sentimento de amor que é nos imposto, mas que de certa forma não nos faz mal. Pelo contrário, pois ter fé é acreditar que o homem não é autossuficiente, mas que ele é subordinado a uma força maior, que regi a vida e que decide a todo o momento o curso da vida na terra. E essa constatação é importante porque permite que o ser humano se humanize, fazendo dessa terra um ambiente onde a paz e o amor devem sempre prevalecer.
Diferente dessa fé, a qual todos nós conhecemos e nutrimos dentro de nós de formas distintas, ser seguidor de uma ideologia religiosa é altamente prejudicial. Isto porque, muitas Igrejas que deveriam ser o portal por onde os fieis entrassem em contato com o divino, agem paradoxalmente, invertendo o verdadeiro sentido da fé. Isso acontece muito aqui no Brasil, onde os “detentores da palavra” da moral e dos bons costumes usam seu poder de persuasão para propagar a intolerância, o desrespeito e o desamor entre as pessoas. Mesmo vivendo numa terra onde a diversidade religiosa é base constituinte da cultura, muitas Igrejas esquecem-se dessa pluralidade e lutam entre si para angariar mais seguidores, que lotarão seus templos, ofertando além da fé um pouco, ou até muito, dinheiro. Por isso é que se veem pastores sendo presos por roubo, falcatruas, desvio de dinheiro público no caso de políticos inseridos em bancadas evangélicas. Entretanto, os “fieis” infectados pelo discurso alienativo de algumas instituições religiosas que usam a fé como artificio para conquistar o povo, seguem investindo a sua adoração ao tempo, ao pastor, ao dizimo, mas não a Deus e a filosofia altruísta propagada por ele.
O resultado disso é a proliferação de pensamentos maniqueístas, ou seja, posicionamentos religiosos limitados, impondo para a sociedade o que é certo e errado, o que pode ou não, quem deve permanecer vivendo ou não, e assim por diante. É, na verdade, uma catequese moderna, com os mesmos moldes impositivos daquela época de descobrimento das terras brasileiras. No entanto, as pessoas que usam a fé dessa maneira se esquecem de que, diferente dos povos que habitavam as matas do Brasil, as pessoas de hoje são reflexivas e já utilizam a razão para decidir sobre a sua vida. Ou pelo menos deveriam usá-la. De qualquer forma, a sociedade não pode deixar servir-se como massa de manobra nas mãos de aproveitadores que utilizam erroneamente os ensinamentos de Deus, como verdadeiras armas para segregar seres humanos.
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