Assumir ou não a Homossexualidade?

Entre tantas dúvidas e escolhas que devem ser feitas ao longo da vida do ser humano, nada se configura como mais difícil do que assumir a própria sexualidade. Ela está entre as mais polêmicas questões que atordoam os valores da nossa sociedade, principalmente quando não segue os padrões sócio-históricos e biologicamente estabelecidos por ela. É nesse momento que entra a homossexualidade, pois, como se sabe, ela ainda não é encarada com maturidade pela população, na qual prefere segregá-la a ter que entendê-la em sua plenitude. Devido a essa barreira preconceituosa que é criada, muitas pessoas sentem-se incapazes de assumir para a família, amigos e para o resto da sociedade que é gay, por puro temor de ser expulso de casa e do convívio social, do qual é atribuído a nossa educação como crucial para a convivência/sobrevivência com outras pessoas.

Se estivéssemos nos tempos áureos da inquisição, época em que a Igreja Católica regia as normas sociais, com certeza escancarar a homossexualidade não seria uma atitude bem acertada. Entretanto, atualmente os tempos são outros e mesmo com tanta discriminação e intolerância, é inegável os avanços educacionais que a nossa sociedade adquiriu quando nos referimos à homossexualidade. Então onde mora o medo de assumir tal posicionamento frente a outras pessoas? Por que muitos homossexuais ainda preferem viver as escondidas, praticando lascivamente as suas relações sexuais? Do que eles tanto têm medo?

Mesmo não vivendo na época da caça as bruxas, ser gay ainda é sinônimo de algo pejorativo, caricato, transgressor e anormal. Pejorativo, pois para alguns a homossexualidade está intimamente ligada à imoralidade/amoralidade, ou seja, imoral significaria dizer que estão acima da moral e amoral significaria sem moral. Caricatos por que ainda perdura o pensamento limitado de que todo gay é efeminado e com trejeitos femininos, como se todos eles não fugissem a risca nesse sentido. Nesse âmbito eles são vistos como transgressores, pois não se enquadram na realidade pré-moldada pela sociedade da qual fazem parte. E, por fim, anormais, uma vez que realizam práticas das quais não andam em conformidade com a maioria da população.

Por causa desse breve balanço social, aberto a outras inserções, muitos gays não se arriscam a assumir publicamente a sua homossexualidade. O primeiro desafio está em casa. Lá é sem dúvida o pilar de sustentação que manterá o individuo até que ele possa andar com as próprias pernas. Como dizer então para pai e a mãe, pessoas das quais devemos amor e gratidão e que esperam tanto de nós, algo desse tipo? Esse é uma das perguntas que ecoam, atormentando muitos que já passaram por essa situação. Em seguida, vem o restante da sociedade. Como as pessoas vão receber a noticia da minha orientação sexual? E nesse instante um medo incontrolável toma conta de você, dominando sua mente e fazendo-o fraquejar na hora de tomar a decisão final.

Não há uma receita pré-definida, nem tão pouco exemplos a serem copiados. Cada caso é único e cada pessoa sabe dos limites e dos pensamentos dos indivíduos que os cercam. Porém, na maioria das vezes, a posição mais acertada é assumir a sexualidade e aliviar esse peso que martiriza os ombros. De cara, a família deve ser a primeira a saber. Contar para aquele parente que se tem mais intimidade, seja irmão (a), primo (a), cunhado (a) e etc., ajuda, até chegar a uma instância maior: pai e mãe. Estes são os principais obstáculos a serem enfrentados, sobretudo quando não se há um bom diálogo para as questões de ordem sexual em casa. A mãe, que em geral é mais receptível a esses assuntos, deve ser a primeira a ser informada. Ela lhe ajudará a entender esse momento tão complexo da vida e lhe dará o apoio adequado. Já a figura paterna, geralmente enxerga com dificuldade esse assunto, mas, pouco a pouco vai cedendo. Vale lembrar que toda essa metodologia não é estanque e pode variar de família para família, de caso para caso. Apenas acredito que quando a família recebe a noticia de que o filho é homossexual, da boca dele, os transtornos são bem menores do que se outrem falasse.

Caso os seus parentes aceitem ou entendam a sua orientação e/ou identidade de gênero, ótimo. Caso isso não aconteça, não se desespere, pois, dependendo da sua índole, eles lentamente irão se acostumar com a idéia, aprendendo a respeitá-lo. Você só não pode cobrar algo deles do qual infelizmente eles não estão preparados, ainda. Lembre-se que há muito desconhecimento sobre a homossexualidade que resvala nos estereótipos amplamente conhecidos e propagados pela sociedade. Nesse momento o mais sensato é aguardar o tempo que cada família tem de digerir a noticia de ter um filho (a) gay.

Nada na nossa vida é de difícil resolução se não soubermos como dialogar. A homossexualidade é um exemplo crasso disso. Ela pode e deve ser amplamente vivida por qualquer pessoa, desde que se tenha respeito e maturidade. E não importar o seu perfil: machudo, efeminado, Drag Queen, travesti ou qualquer outra ramificação do tipo. O que realmente interessa é a sua plena convicção de felicidade. Se você acredita que viver as escondidas, sem que ninguém saiba da sua orientação sexual, lhe faz bem, então não deixe que ninguém furte isso de você. Mas, se por outro lado, você pensa que a felicidade está em assumir para todos que você é feliz por que é gay, ótimo. Seja qual for a sua escolha, não deixe de assumir antes para si próprio que é homossexual e que isso lhe faz bem, completo e vivo. Não veja a sua homossexualidade como um tormento, um peso. Assumir para si próprio, aceitando-se, facilitará para que outras pessoas lhe aceitem também e lhe vejam com outros olhos. E seja feliz sempre, pois

SER FELIZ É SER LIVRE! 



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