Como é complexo definir algo que nem ao menos compreendemos. Fazer uma conceituação da personalidade humana é como navegar num mar aberto no meio de uma tempestade. Há momentos de calmaria, mas também podemos nos encontrar com a fúria dos oceanos. Esse é o duelo do qual nosso íntimo digladia-se todos os dias, entre erros e acertos, alegrias e tormentos, perdas e ganhos, encontros e despedidas. Todo esse mar de emoções constrói os alicerces característicos de cada individuo. Uma mistura única e indivisível de caráter, modelando as nossas escolhas e alterando a realidade do mundo do qual vivemos.
Por mais que o homem tenha evoluído há assuntos que parecem não acompanhar o andar desse desenvolvimento. Aprendemos a dominar o fogo e outros elementos da natureza, a registrar nossas impressões do mundo em forma de figuras nas pedras. Fomos bem mais além e penetramos até na imensidão do universo. Mesmo assim, não conseguimos compreender a individualidade humana, a respeitar o diferente, a aceitar os nossos próprios defeitos no intuito de melhorá-los. Semeamos a intolerância e colhemos preconceitos, dos quais nos alimentamos, transformando-nos em pessoas violentas e alienadas.
Sofremos ao ver um menino de rua abandonado, mas não fazemos nada para mudar a realidade dele. Somos contra a violência em todas as suas instâncias, porém, muitas vezes, contribuímos para que ela aconteça. Cobramos a proteção integral das nossas florestas, bem como a conservação do meio ambiente como um todo. No entanto, desmatamos, assoreamos rios, poluímos o ar, sujamos as ruas, não economizamos energia elétrica nem a água encanada que usamos, mas sempre levantamos a bandeira hipócrita da sustentabilidade.
Também dizemos num discurso bem elaborado que a discriminação contra negros é algo do passado, quando na verdade, dentro de muitas pessoas ainda vigora o pensamento escravista dos tempos nefastos da senzala. Falamos em igualdade dos sexos, no qual a mulher é equiparada ao homem em vários aspectos. Porém, alguns homens ainda consideram muitas mulheres como seres incapazes de se igualar a eles, pensamento machista que ainda perdura. Atualmente criamos neologismos para questões polêmicas, como é o caso da palavra “homofobia”, a qual significa qualquer forma de intolerância física ou verbal contra a ala homossexual. Entretanto, não fazemos nenhum esforço para entender o cerne da problemática vivida pelos gays.
Assistimos o BBB, mas não temos tempo de ler um bom livro, o qual alimentaria as nossas almas carentes de conhecimento. O Brasil pára para ver a seleção jogando um amistoso, do qual têm jogadores semi-analfabetos batendo uma bola de um lado para o outro. Não obstante, essa mesma nação não pára para compreender o motivo pelo qual professores, médicos, e outras esferas importantes da sociedade, fazem tantas greves. Suplantamos coisas fúteis em detrimento de outras cruciais, sem ao menos nos darmos conta disso. Enquanto nos preocupamos com a construção de novos estádios para a próxima copa do mundo, centenas de crianças passam fome, moram em habitações subumanas e não têm uma educação que prime pela qualidade do ensino.
Indignamos-nos quando um novo político aparece na TV acusado de corrupção, porém, não temos a consciência de empregar bem o nosso voto no período eleitoral. Quando a economia do país está em declino, rapidamente encontramos os culpados, mas, infelizmente os regentes que cuidam dessa parte foram escolhidos por nós. Exercemos o nosso nacionalismo em poucos momentos importantes da nossa vida, como por exemplo, nos jogos de futebol. Entretanto, esquecemos de ser patriotas quando a intenção é desconstruir a visão banalizada que outras nações fomentam da nossa.
Se fizermos um autoquestionameto dos problemas que assolam a humanidade perceberemos que eles estão mais perto de nós do que imaginamos. Eles estão dentro dos nossos posicionamentos, escolhas, opiniões, ou seja, na nossa personalidade. Dificilmente esse nosso modo de encarar a vida seja mudado. Talvez nunca mude. Em contrapartida, otimismo é um sentimento presente também na mentalidade humana. Quem sabe um dia ele se manifeste e transforme de uma vez por todas essas distorções que fazemos do mundo.
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