Ciência, magia, sobrenatural ou tudo junto. Não se sabe bem ao certo como definir o surgimento da vida, mas o que ninguém discuti é que ela é a dádiva máxima que Deus ofertou aos seres humanos aqui na terra. No entanto, infelizmente tal constatação não é valorizada por todos, pois o que se vê são pessoas tirando a vida de outras, sustentados em razões apequenadas de ideologias que tentam padronizar um modelo de comportamento social, baseado na moral e em costumes conservadorísticos obsoletos. Daí, as camadas estigmatizadas pela sociedade sofrem com os abusos, o descaso e a violência desenfreada de uma parcela de pessoas que não sabem o significado da importância de respeitar a vida alheia, não interferindo assim no curso natural dela. Entretanto, no Brasil, isso não acontece, sobretudo com os homossexuais, já que atacá-los, caçá-los e até mata-los se tornou hobby, esporte ou necessidade, como se estes fossem peças de marfim, ou pior, pragas que devem ser extintas da face da terra.
A brutalidade contra os gays merece uma apurada reflexão, pois nunca foram cometidos tantos crimes contra essa classe como nos últimos anos. De fato, se comparado com a perseguição religiosa de momentos tortuosos da história, perceberemos que hoje eles são mais assassinados do que antes, mas pelas mesmas razões e com o mesmo requinte de crueldade. Hoje, não são apenas as travestis, os afeminados ou os homossexuais que se prostituem as únicas vítimas da violência. Idosos, homens distintos, jovens, e até crianças que estão descobrindo a própria sexualidade são vítimas da intolerância sexual de pessoas que sentem aversão à homossexualidade. Essa fúria contra o comportamento dos gays ultrapassou todos os limites, visto que os ataques não se restringem as ruas, ou locais ermos. Na escola, dentro de casa e em plena luz do dia, os agressores manifestam uma indiferença tamanha contra os LGBTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), sem nenhum pudor, nem tão pouco respeito pela vida deles.
As razões para tanta selvageria são inúmeras e fáceis de serem pontuadas. A primeira é a imposição biológica com a visão procriativa pela qual a humanidade está fundamentada. Sobre essa perspectiva, os homossexuais representariam o extermínio da raça humana, então, por isso deveriam ser contidos antes que tais previsões fossem concretizadas. Segundo vem a questão dos valores morais, estes tão intimamente ligados a Religião que delimitou um modelo de relacionamento do qual só poderá haver afeto, atração e contato sexual entre homens e mulheres. Com isso, todo comportamento que desviasse desse padrão deve ser condenado, sob a ótica divina, não restando chances para salvação. E o terceiro, mas não menos importante, é a falta de educação. A não sedimentação desse quesito tem resultado na propagação da ignorância, esta que é determinante para o surgimento de atos de violência, geralmente respaldados pela falta de conhecimentos básicos como civilidade, igualdade, respeito e amor ao próximo.
Na realidade, o que ocorre é uma inversão de valores por parte da sociedade. Enquanto uma parte dela ecoa discursos hipócritas contra o fim da discriminação e do preconceito, outra parte age completamente diferente quando são impelidos a combater esses problemas na prática. Ou seja, dizer que o problema existe e exigir que o outro faça a sua parte contra a violência e a segregação pela qual os gays do Brasil são obrigados a viverem, não é o suficiente. É preciso ação conjunta, empenho e comprometimento com as causas desse grupo. Não se pode fingir que eles não estão sendo exterminados. Não se pode ignorar a existência de uma educação heteronormativa dentro de vários lares e transplantada para muitas escolas. E não se pode esconder a triste realidade deles que estão vivendo na obscuridade, com medo de serem atacados por pessoas que não conseguem respeitar a individualidade alheia, e ainda por cima não são devidamente punidos por agredir um homossexual.
Padronização, esta é a palavra de ordem, portanto, quando temas polêmicos estão em jogo. De fato, ela é utilizada para justificar que o que é diferente não pode pertencer ao quadro imposto pela sociedade, porque de alguma forma foge do perfil esperado, da normalidade exigida e de tudo o que já está sacramentado. No entanto, o “diferente” não pode ser condenado por pessoas que acham que determinado grupo difere do outro apenas porque tem uma sexualidade diferenciada da considerada padrão. Falar em sexualidade, numa acepção abrangente, é como navegar num mar sem vela, logo, é um risco criar nomenclaturas e classificações estanques para enquadrar aquela “perfeita” da imperfeita. O que há são variações, experimentações. Um espectro de vida que deve ser entendido, não como perversão, bizarrice ou antinaturalismo, mas sim como vertentes humanas, possibilidades de contato com o outro na busca constante por um prazer individualizado que nem por isso é inferior ou superior, apenas diferente.
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