Tudo o que é proibido aguça o imaginário do homem. Essa máxima engloba várias temáticas possíveis, sobretudo aquelas que transgridem a ordem social, subvertem o sistema, escandalizando moralistas e aqueles que mantêm a verdade e os bons costumes no topo da pirâmide do politicamente correto. Nesse sentido, o sexo ganha o epicentro da discussão, visto que ao longo da história da humanidade a sua manifestação libertária sempre foi vista como um tabu, reduzindo-o a práticas procriativas. Encapsulado “em quatro paredes”, lentamente na atualidade o sexo ganha uma configuração perigosa, sobretudo através das ferramentas midiáticas, religiosas e consumistas que de certa forma utilizam-se dele ora como elemento atrativo para a comercialização de pessoas/objetos, ora como instrumento de coerção.
Sem perceber, somos atentados com os abusos de uma sociedade amplamente estupradora. Beijos calientes em novelas e minisséries aquecem a temperatura de jovens imaturos, desvirginando-os de forma abrupta, numa construção corrosiva da sexualidade. Tudo isso difundido em horário nobre, com belos artistas seja extrapolando nas interpretações, seja servindo de objetos para comerciais de roupas íntimas, cervejas e automóveis. A personificação avessa dessas celebridades, já que muitos deixaram de ser humanos para se tornar meros produtos, rótulos e embalagens consumíveis, contribuiu para outro problema, a formação de pessoas narcísicas. Ser e estar belo, com seios aerodinâmicos, pernas e braços torneados, músculos volumosos, e corpos simetricamente curvilíneos, tornou-se o ideal neo-parnasiano de beleza. Com isso, crianças, jovens e muitos adultos são estuprados por esse modelo de vida e se tornam prisioneiros dele.
Além da mídia, outro profanador dos nossos corpos é a atual sociedade do consumo. Cotidianamente, somos estuprados por ela nas mais simples atividades até as mais complexas. Para isso, as propagandas fazem o papel de invadir nossas mentes, insuflando lá carências que não existem. Tal intromissão acaba criando pessoas tão descartáveis quanto os aparelhos que adquirem. Ocos, esses indivíduos vagam como se fossem zumbis, guiados apenas pela necessidade de consumir demasiadamente. Na verdade, há uma desconfiguração do humano e a formação de seres etiquetas, que são avaliados pelas marcas de bens que possuem e possam vim a adquirir. Essa superficialidade é fruto do assédio que o consumo fomenta nos indivíduos, criando espécimes vazias e alienadas.
Nesse sentido, outras instâncias, além da mídia e da sociedade de consumo, exercem uma extrema influência na vida das pessoas, violando mentes quase que imperceptivelmente. As religiões, sobretudo aquelas do segmento Católico/protestante, são as que mais coagem vidas, com seus discursos rasos e sua moral duvidosa. Detentora da palavra divina, seu principal foco discursivo está fincado justamente no sexo e na pluralidade da sexualidade humana. A priori, é importante fazer uma precisa distinção entre sexualidade e sexo. Enquanto este se refere ao gênero, ou seja, a ortodoxa classificação do masculino e o feminino, aquele se refere à pluralidade sexual da humanidade (Assexualidade, Heterossexualidade, Homossexualidade, Bissexualidade, Pansexualidade Transexualidade etc.).
Esclarecida essa questão, essas religiões não enxergam, ou não querem enxergar, que as manifestações sexuais não são satânicas, nem transgridem a perpetuação da nossa espécie, mas sim são peças do grande jogo do prazer, do qual não impõe regras aos seus jogadores. Sabendo disso, muitos religiosos habilidosamente utilizam da liberdade que o sexo apresenta para aprisionar as pessoas. Disso, palavras como luxúria, pecado, fornicação surgem para atormentar a vida daqueles que querem ter uma vida religiosa e, consequentemente um lugar no céu. Na verdade, o sexo deixou de ser um ato natural, prazeroso, para se tornar uma ferramenta abusiva, mecânica, transmutada nas mãos desses estupradores poderosos que usam a fé alheia para proferir seus discursos nazistas. Ecos contra o aborto, a homossexualidade e o uso da camisinha só evidenciam a violência praticada por eles contra tais grupos.
O debate, então, parte do princípio dos perigos que a intromissão do sexo orquestrado por certos segmentos sociais, que defendem e propagam uma prática sexual insalubre; que nos fazem comprar, gastar e formam pessoas presas, vendidas como se fossem prostitutas industrializadas; e que podem influenciar na estruturação de seres frívolos, incapazes de entender a sexualidade e o sexo de forma natural, pode acarretar numa sociedade enferma como a nossa. Mesmo que aja uma predisposição para vasculhar essa “caixinha de pandora”, não se pode negar que as influências externas têm uma significante parcela de culpa na propagação de um sexo transgressor, do qual somos brutalmente violentados sem a menos ter a consciência de quem são nossos estupradores.
Feitas as devidas colocações, é necessário entender os perigos exercidos por todos esses veículos, numa sociedade acostumada a não pensar. A mídia vai continuar com suas cenas fortes, o consumismo continuará a fazer mais vítimas e as religiões também continuarão com seu discurso opressor por um bom tempo. Nesse acasalamento forçado, no qual somos a parte passiva, só nos resta se esquivar desses estupradores desalmados, ficando a espreita e não na mira de seus olhos, para que não nos tornemos alvos eternos dos seus desejos mais sórdidos. Só assim, deixaremos de ser vitimados no corpo, na mente e na alma por instituições como estas que utilizam da sensualidade de suas palavras para atrair pessoas para suas respectivas ideologias.
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