Quando li há pouco do encontro do nosso astro pornô Alexandre Frota, com o Ministro da educação Mendonça Filho, foi inevitável não fazer uma analogia sexual. A ocasião me fez lembrar das diversas posições sexuais feitas por Frota em seus filmes e que agora devem ter sido sugeridas ao nosso governo para "melhorar" a educação brasileira. Entretanto, me arrisco a dizer ,que neste tocante, não é preciso dos ensinamentos de nenhum profissional do ramo da pornografia. A educação por aqui vive de ladinho, mas sem direito a lubrificação. Sua posição preferida é a mais clichê de todas: papai e mamãe, sem variação de sexo, gênero, muito menos identidade, já que não se pode mais falar desses temas em muitas salas de aula. Quando há variação, a educação sempre leva algo por trás: duro, grosso, com força e, geralmente sem esperar. Prazer, então, é melhor nem comentar. Quem goza é o governo com os índices controversos em torno das melhorias educacionais, porque o povo continua a morrer na mão.
Espero estar enganado quanto a isso, mas não acredito que a visita de uma celebridade do porte dele tenha ido a um ministério tão específico à toa, sobretudo no momento político atual que estamos vivendo. Digo isso, porque vivemos tempos ainda mais difíceis quanto ao ato de ensinar no Brasil. Há inúmeros políticos nesse exato momento excitados com a ideia de retirar ensinamentos pertinentes aos jovens, como temas ligados a cultura do estupro, homofobia, identidade de gênero, entre outros. Segundo esses doidivanas, essas temáticas são doutrinações ideológicas que podem distorcer a personalidade das nossas crianças e adolescentes e, portanto, cabe às famílias, de preferência a do papai e mamãe, decidirem o que é melhor para os seus rebentos. Ora, não ensinar as gerações sobre problemáticas dessa natureza é legitimar a violência que vitimiza às minorias diariamente, desde mulheres sendo estupradas por 30 homens a meninos sendo mortos porque gostam de lavar louça. Mais controverso ainda é ver que tal pensamento é defendido por alguém cujo filmografia consta cenas inclusive com travestis, mas que por alguma razão agora luta por uma educação mais conservadora.
Mais inoportuno ainda foi o momento em que se deu a coalizão entre Frota e Filho, uma verdadeira foda, aproveitando os F's dos seus sobrenomes. Entretanto, desse ménage à trois entre eles e a educação, esta última tem levado a pior, justamente porque há pouco tempo professores do Alagoas foram proibidos de opinar em sala de aula, sob pena de perderem o emprego. O projeto "Escola Livre" visa impedir a doutrinação política, religiosa e ideológica nos colégios é uma prova viva que estão penetrando, sem lubrificante, sem dó, nos orifícios para lá de abertos da educação brasileira. Ao tolher o educador do direito de expressar seus posicionamentos em sala, o governo deixa claro que este profissional não passa de um mero coadjuvante no processo ensino aprendizagem. Além disso, fala-se muito em doutrinar, mas não em orientar, coisas das quais muitos dos nossos jovens não são, sobretudo porque não há um modelo educacional pautado em levar certas questões - então pertinentes aos alunos - para a sala de aula. O professor, contudo, assumia esse papel, o de esclarecer os obscuros pensamentos, rótulos e pré-conceitos instaurados na sociedade, mas pelo visto a ideia é castrar o pensamento e fecundar a ignorância.
Por ser fã assumido de Bolsonaro, defensor desse mesmo projeto, e ter uma postura digamos inusitada, penso que Frota deva ter sugerido ideias para apimentar ainda mais a realidade intragável da educação brasileira. Para os mais céticos, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde), o Brasil aparece entre os 10 países que têm mais alunos com baixo rendimento escolar em matemática, leitura e ciências. Dado este referente ao ano vigente, porém algo nítido entre aqueles que tem a educação como trabalho/meta. Esse fato catastrófico poderia ter sido evitado se houvesse um comprometimento real com essa temática, com investimentos massivos desde a alfabetização à universidade pública. Entretanto, ao invés disso, limita-se o poder do professor em sala de aula; incentivam-se as greves e pouco se faz para contê-las com acordos dignos; criam-se estatísticas falaciosas para maquiar a realidade educacional; formam-se profissionais medíocres e/ou despreparados muitas vezes para lidar com a sala de aula; fala-se em investimento mas não se apresentam os resultados disso; políticos encontram-se com atores pornôs, mas não se destina uma horinha do seu tempo livre para ouvir as reivindicações de alunos, pais e educadores, que lidam pornograficamente com o ensino todos os dias.
Sem sombra de dúvidas, o flerte sexual entre a educação e a política não está sendo prazeroso para esta última. Há muita paquera e pouca iniciativa. Muita sensualidade de um lado e vulgaridade do outro. Deve ter sido por isso que Frota resolveu dar seu ar da graça no Ministério, para enfim erotizar a relação e sacramentar o coito. Pena que ele sozinho não tenha membro - se é que você me entende - para aproximar aqueles dois. Quando se fala em educação, é preciso resgatar dilemas antigos ligados não só ao que já foi supracitado, mas também a desigualdade social; a luta de classes; a negligência histórica governamental; dentre outros subtópicos brochantes dessa relação. São bem mais do que cinquenta tons de cinza, é uma paleta inteira de tonalidades escuras, como se o indivíduo estivesse em busca do elo perdido, que é a educação, mas todas as vezes que se aproxima dela - ou da tentativa de qualificá-la - a miragem se desfaz. É dessa ilusão que vivem os brasileiros, da ideia mágica de que o ensino vai melhorar a cada nova promessa de governo, com mais escolas, livros, e qualidade na aprendizagem, porém, voltando aos trocadilhos sexuais, isso cai por terra semelhante a ejaculação precoce: na hora do bom já foi.
De volta à Frota, o ator de filmes adultos representa bem uma parcela da população brasileira atual: aquela que vê a educação apenas como uma transa rápida, por dinheiro, sexo sem compromisso e com poucas consequências. Antes de mais nada, é preciso deixar claro que sexo casual é bom, principalmente entre adultos de forma segura e protegida, mas a mesma regra não cabe ao educar. Educação precisa de amor, intensidade, entrega, paixão. Sem isso é apenas um derramar de fluídos desperdiçado em gozos fingidos, semelhantes aos que muitos atores pornográficos realizam em suas cenas teatralizadas frente às câmeras. O que quero dizer é que Frota, Filho entre outros filhos dessa pátria mãe gentil querem é uma educação sem prazer, sem diálogo, restrita a visões conservadoras do que é ensinar, pautada a priori em desculpas sobre politicagem disso ou daquilo, mas eivada de outras ideologias as quais não cabem mais nessa época. Isso sim é banalizar o ensino aprendizagem, pois não há nada pior para o pensamento crítico do que limitá-lo, e é isso que precisa ser combatido. Para ser otimista, torço para que a educação assuma seu papel de destaque nessa relação sexual turbulenta entre ela e o governo, mas perco o tesão quando vejo que as minhas expectativas podem estar equivocadas ao ver alguém do perfil de Frota "sugerindo" melhorias ao invés de outras pessoas mais habilitadas para isso serem de fato ouvidas.
Esse masoquismo não foi acordado entre as partes, por isso só a educação apanha, rasteja, sangra e se machuca, enquanto há outros que se deleitam com isso. É o verdadeiro - para não dizer literal - estupro mental. Um país que se pretende equiparar a outras nações não pode se permitir a isso de braços cruzados. Nada contra a indústria pornográfica, pelo contrário, vejo muita contribuição nessa área principalmente para uma sociedade assexuada como a nossa. Porém, acatar as sugestões de Alexandre Frota para a melhoria da educação brasileira é uma afronta a todos os profissionais que se dedicam a transformar a realidade educacional, muitas vezes sem nenhum aparato do governo. É ridicularizar esse campo e todos aqueles que fazem parte dele. Significa também negligenciar todas as pesquisas feitas por entidades, nacionais e de fora, cujos dados mostram não só as tristes estatísticas nesse sentido, mas possíveis rotas para solucioná-las. Ainda alegorizando com sexo, permitir esse tipo de intromissão na política é banalizar o estupro, a homofobia, a transfobia, o aborto, dentre outras pendências ligadas ao sexo/sexualidade não resolvidas nem pela política nem pela sociedade. É o mesmo que sexo sem camisinha, semelhante a muitos filmes feitos por Frota facilmente acessíveis no Xvideos. Isso é, se essa página não se tornar em breve uma versão pornô, de fato, a atual educação nacional.
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