A tristeza é traiçoeira. Aproveita-se de uma brecha para se
apossar de nosso corpo. Junto ao cansaço e o desgaste diário, ela retira as
nossas vontades, principalmente das coisas que nos davam mais prazer. Quando
menos esperamos, estamos presos numa cadeia de solidão. Nada mais faz sentido.
Tudo ao redor não nos desperta mais interesse. O vazio passa a ser o
protagonista da nossa existência. Médicos e remédios surgem como meros
paliativos, mas o que sentimos é tão profundo, tão intenso, tão complexo, que a
ciência não consegue sanar, apenas amenizar. A melhor saída é se isolar, fugir
do mundo e de todos, ficar só. Porém, estar sozinho, e não na solidão, nem
sempre é ruim, desde que não dure muito. É o momento ideal para reavaliar a
nossa postura com relação aqueles que nos circundam e corrigir, na medida do
possível, aquilo que não nos faz bem.
A começar dentro da própria casa. Não há família que não se
desentenda. Casais brigam por coisas banais, as vezes até violentamente. Pais e
filhos discutem e ficam sem se falar. Irmãos não se permitem compreender e
aceitar um ao outro. Quando menos esperamos, o nosso lar, que deveria ser um
ambiente saudável de amor e respeito, passa a ser um local de guerra. Se em
casa falta a harmonia familiar e os laços de amor de antes desataram-se
facilmente em brigas vãs, precisamos ser peças fundamentais para corrigir tudo
isso. Quando não lutamos por uma atmosfera de paz dentro desse espaço,
contribuímos para o isolamento de todos aqueles que deveriam estar em total
fraternidade.
O trabalho também contribui, e muito, para problemas
interiores, principalmente quando toma muito tempo de nossa rotina. Não somos
máquinas, somos sujeitos a panes sim, sobretudo quando nos sobrecarregamos de
tarefas. Sem espaço para lazer ou qualquer outra forma de crescimento pessoal,
doenças como estresse, fadiga e depressão surgem para diagnosticar que algo não
vai bem conosco e é preciso parar. Porém, no mundo do capital em que vivemos,
nem sempre conseguimos a liberdade de parar para nos refazermos física e
pessoalmente. O que agrava ainda mais a nossa saúde e, geralmente, nos piores
momentos percebemos que nem dinheiro, nem riqueza nenhuma paga o nosso bem
estar corporal e mental.
Relacionamentos amorosos também necessitam de ajustes.
Quando são abusivos, a parte que perceber isso deve cair fora o quanto antes e
se permitir encontrar outro amor. Se a relação anda distante, fria e desgastada
pelo tempo, é preciso primeiro saber se ainda vai valer a pena lutar por esse
amor. Para quem já tem um amor, e sabe das dificuldades que é estar com alguém,
nada melhor do que discernimento para enfrentar as adversidades que insistem em
atrapalhar os casais enamorados. Para os que buscam a grande paixão, é preciso
se permitir, conhecer e quando menos esperar o status na rede social estará
modificado.
Nesse turbilhão de coisas, nem sempre há tempo para os
amigos. Sem perceber, afastamos as pessoas queridas de nossas vidas, justamente
aquelas que poderiam aliviar nosso sofrimento com um conselho, um abraço ou
apenas jogando conversa fora. Não podemos impedir amizades. Longe disso, o
ideal é nutrir as amizades para serem aliados nos momentos em que estamos mais
perdidos. Caso sejam muitos, ótimo! É sempre bom estar perto de gente querida e
quanto mais nesse sentido melhor. Agora, se não há tantos amigos assim, os que
têm se tornam mais preciosos ainda e merecem um lugar especial em nossos
corações, mas isso não impede de nos permitimos a conhecer novas pessoas e
aumentar esse leque de amizades.
A fé é uma excelente aliada nessas horas. Não interessa o
credo, mas acreditar em algo renova a nossa esperança com a vida. Porém, é
comum em momentos de angústia fraquejarmos diante do celestial. Duvidamos se
conseguiremos sair do estado em que estamos, porque o vazio não nos permite
enxergar que há algo mais forte ao nosso redor. Isso porque, o divino não está
limitado ao espaço dos templos religiosos. Ele se manifesta nos elementos da
natureza, nas pessoas que nos fazem bem e em tudo aquilo que nos faz bem.
Quando fazemos o bem ao próximo, já é um preceito importante para muitas
religiões. Então, é preciso manter a fé mesmo nos momentos mais difíceis da
vida.
Portanto, quando as nossas energias parecerem esgotadas.
Quando os piores sentimentos se apossarem de nós. Quando nada passar a fazer
sentido. Quando as pessoas de antes parecerem não ser mais as mesmas. Quando a
rotina começar a pesar nos nossos ombros. Quando estamos perdidos dentro de nós
mesmos. Quando nossos sonhos passarem a ser impossíveis. Quando o mundo desabar
sob nós. Quando não encontramos respostas para as nossas dúvidas. Quando tudo
isso tomar conta de nossa essência, o melhor é se reencontrar. Para isso, nada
melhor do que estar só, mas não na solidão. Todo mundo precisa de um tempo
sozinho para recarregar as baterias e voltar com força total à realidade.
Porém, nesse intervalo de tempo, é preciso nos reavaliar e, se possível,
refazer tudo aquilo que impedia nossa plena felicidade. Desde que não dure
muito, estar só é a melhor receita para voltar a estar com o outro.
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