Sou um dos muitos conectados às redes sociais. Tenho Facebook, WhatsApp, Blogger, Instagram, que é meu atual vício. Apenas o Twitter não me fisgou. Como todo o usuário, faço das minhas redes o que bem entender, embora, no meu caso hoje seja mais uma ferramenta de trabalho. Sob esse prisma, procuro manter relações distintas para cada um desses veículos, privando-me de certas exposições em uns e me revelando em doses homeopáticas em outros. Mesmo sendo assíduo nesses novos veículos de comunicação, nem sempre é possível estar 100% conectado frente às demandas diárias. Quem consegue fazer isso em equilíbrio com as exigências da vida, parabéns, mas não é o meu caso. Acredito que muitas pessoas sejam como eu, se dividindo entre os mundos real e virtual. Porém, essa justificativa parece não ser o suficiente. Fui há poucos dias excluído de um grupo de “amigos” no zap, sob a alegação da falta de interação. Então, resolvi escrever como essa experiência me fez refletir sobre as imposições comunicativas na rede e a rapidez como somos descartáveis quando não aderimos as suas normas.
O mundo moderno tem pressa e as redes sociais personificam o cronômetro dessa realidade. Logo, não basta ter um perfil nelas, é preciso postar continuamente. Ao acordar, dar bom dia, atualizar o status, publicar nos stories, curtir os perfis alheios, comentar, compartilhar se for preciso, repetir esse processo várias vezes ao longo do dia, e esperar o retorno dos seguidores. Todo esse ritual é divertido, não nego. É o que garante o estrondoso sucesso dessas novas ferramentas: permitir ao usuário o sentimento de pertença em meio a um mundo de infinitas possibilidades. Por isso é tão convidativo, porque oferta a todos a chance de ser mais um protagonista no terreno virtual. O problema é que, com isso, impõem-se uma obrigatoriedade ao entretenimento. Então, sem percebermos, da mesma medida que somos cobrados a estar conectados, fazemos o mesmo com o outro, que nem sempre compactua com a nossa rotina de vida. Internautas menos presentes são os mais prejudicados nesse sentido. Para estes, a rede não aceita ficar em segundo plano, por mais que a vida real necessite de atenção, as mídias sociais exigem nossa total exclusividade.
Faço parte desse grupo. Divido o meu tempo entre trabalho, família, amigos e o lazer, que inclui ler, escrever, dançar e postar nas minhas redes sociais. Mesmo estando em último, estar na rede sempre se faz presente de uma forma ou de outra. Em meio a isso, tento, do meu jeito, estar atualizado nesse sentido, mas, confesso, que não consigo fazer isso com tamanha eficiência como antes. Recebo muitas mensagens e sinto uma preguiça capital em respondê-las de imediato. Grupos no zap, dos quais o falatório geralmente é infrutífero, eu me reservo o direito de pertencer a poucos, só os estritamente necessários. Morro de tédio em ficar horas e horas no bate papo em uma dessas redes, mais enchendo linguiça do que interagindo propriamente dito. Talvez essa minha impaciência se deva não apenas a minha realidade de vida, mas também ao meu perfil como usuário. Todavia, isso não deveria ser relevante para me excluir do contato nessa atmosfera. Me senti como um dos muitos “Hater’s”, que mancham de ódio à rede, quando vi que fui excluído daquele grupo apenas por não me comunicar com frequência.
De fato, tamanha impaciência se deu após a popularização dos aplicativos de mensagens rápidas. Neles é preciso visualizar o que foi digitado e, instantaneamente, respondê-las. Deixar alguém no “vácuo”, como se diz, é visto como desrespeitoso. Esquecer, então, é um sacrilégio. Não posso falar sobre todas as ocasiões em que essa “falha” na comunicação ocorre, mas a mais costumeira delas trata-se justamente quando uma das partes não pode atender aquele chamado, ainda mais se forem vários ao mesmo tempo, pela simples razão de estar ocupado. Tal status costuma ser ignorado. Esse imediatismo na interação é imensamente prejudicial por não respeitar o tempo que cada pessoa possui para se manifestar na rede, independente do grau dela de conhecimento e/ou entendimento dessas novas tecnologias. Estipula um ritmo cibernético de interação não compartilhado por todos e que nem sempre resvala numa comunicação qualitativa, apenas distribuição de postagens prolixas e, muitas vezes, desnecessárias. Decerto, é uma forma egoísta de se comunicar, em um espaço onde, teoricamente, é a liberdade interativa a base das relações.
Em meio a isso, adicionar e rejeitar têm suas funções distorcidas. Há internautas que adicionam, sem culpa ou medo, qualquer desconhecido em suas redes sociais, enquanto há outros que rejeitam vizinhos e parentes próximos, para evitar certas intimidades. Não julgo quem possui essas condutas. Cada um sabe, ou deveria saber, o que fazer com as suas páginas virtuais. Entretanto, mesmo após aceito, o indivíduo recém chegado precisa fazer valer a sua chance, materializando-se de alguma forma na rede, caso contrário será banido dela como se não preenchesse os pré-requisitos para estar ali. Acredito que não é por ai. Evidentemente que, a partir do momento que fazemos parte de um núcleo virtual, precisamos nos fazer presente, de preferência com perfis ativos. Mas, ser ativo, neste sentido, não quer dizer viver inteiramente na vida virtual apenas para atender aos anseios de internautas que, provavelmente, possuem mais tempo livre para isso do que outros. Da mesma maneira, não devemos apontar como erro o inverso, desde que, é claro, não seja algo vicioso beirando a total dependência.
Diante disso, não me sinto nem um pouco culpado em ter sido excluído de um grupo de “amigos” onde me fazia presente apenas quando era possível. Nenhum deles foi desavisado sobre a minha rotina na hora de me incluir. Também não os culpo pela minha retirada. Isso faz parte do roteiro prescrito para quem quer pertencer ativa/assiduamente na rede, mesmo que, para isso, prive momentos preciosos no mundo real. A minha crítica parte dessa silenciosa prática e que resvala em tantas brigas virtuais, términos de relacionamentos, desencontros e desenganos, oriundos apenas da falta de compreensão para com o outro. Também é fruto da rapidez como fomos lançados à rede sem sermos educados a proceder o minimamente tolerantes possível nelas. Por isso, o discurso de ódio ganha força, porque não só não se tolera a livre expressão do pensamento, quanto não se permite não existir na rede. Surge, então, o emergencialíssimo linguístico nas mensagens, que não podem esperar para serem lidas, respondidas, curtidas e compartilhadas. É uma pena. A comunicação poderia ser mais divertida e eficiente nessas plataformas sem todas essas obrigatoriedades. Pois, por mais pressa que tenha a rede, a vida tem muito mais.
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