Estamos consternados com o massacre
numa escola pública em São Paulo, onde funcionários e alunos foram barbaramente
assassinados. Enquanto as investigações não apuram as motivações para
avassaladora violência, é preciso concatenar os pontos que antecedem essa
tragédia. Numa sociedade que enaltece tudo o que é de fora, sobretudo dos
nossos conterrâneos estadunidenses, não é surpresa importar também suas
calamidades. O bullying é um desses estrangeirismos que, com os dilemas
nacionais, ganhou outras conotações. Na rede ele já recebe o nome de
cyberbullying, fazendo vítimas para além dos muros escolares. Graças a isso, em
2011 houve o massacre em Realengo.
Nessa mesma linha de apropriação,
passamos a "flexibilizar" o porte de armas, numa reprodução
macaqueada dos moldes Americanos de ser. Como se não fosse o bastante, temos a
versão fajuta do Donald Trump na nossa presidência, um sujeito despreparado,
tosco e irascível incitando o povo através do medo a acatar suas asneiras. Por
causa dele e seu dedinho apontado, nossa sociedade abriu às portas para o ódio.
Seu projeto de governo, uma paródia do Trump, prefere armar a população do que
humanizá-la por meio de uma educação segura, não apenas do ponto de vista
estrutural, mas sobretudo no que diz respeito a livre expressão do pensamento.
Do contrário, o governo perde tempo
com projetos como Escola Sem Partido, querendo permitir que a família tenha a
liberdade de educar seus filhos em casa, ou criando uma comissão para retirar
as "ideologias" do Enem; a ter que encarar com maturidade e sabedoria
os problemas ancestrais da educação brasileira. Além disso, a carnificina em
Suzano deixa claro como as tragédias no Brasil passaram a ser corriqueiras
devido a política de remediar em detrimento de práticas preventivas. Ao usar o
porte de arma como estratégia de campanha, frente a uma sociedade notoriamente
insegura, o governo não estava pensando em resolver em definitivo o problema da
violência, mas em ganhar louros em cima dela. Funcionou. Elegeram aquele que
impediria que infortúnios como o de Suzano acontecessem.
O problema é que a violência no Brasil
está à revelia de qualquer "mito". O fato é que somos uma das nações
mais violentas do mundo, onde se mata tanto quanto às guerras travadas entre os
EUA e o Oriente Médio. Entretanto, seguimos reproduzindo um modelo social que
não é nosso, o qual tem escancarado a sua ineficiência todos os dias. As mortes
em Suzano evidenciam isso, mas não se encerram aí. O simulacro Americano à
brasileira está também no avanço do conservadorismo religioso na política; na
perseguição policial às pessoas negras resultando no extermínio da negritude do
país; no assassinato e/ou exílio dos nossos militantes; na aversão aos
imigrantes; na deturpação da imagem dos adversários políticos por meio das fake
news; na destruição legal da natureza em prol do progresso econômico de uma
parcela elitista da sociedade; e agora importamos também atentados a bala a
escolas; estas que estão sendo bombardeadas de absurdos desde que o nosso
"Trump" assumiu o poder.
É lamentável saber que tudo isso
poderia ter sido evitado se não houvesse essa exaltação ao faroeste da
presidência à população, nitidamente alienada pelo primeiro. Em meio ao choque
da chacina em São Paulo, o Ministro do STF, José Antônio Dias Toffoli, disse
uma frase um tanto quanto ingênua. Em suas palavras "Não podemos aceitar
que o ódio entre em nossa sociedade." Porém, ele não apenas entrou como já
fez morada. É preciso expulsá-lo por meio de um projeto político pedagógico
voltado, antes de tudo, a civilização dos cidadãos brasileiros. Do contrário, seguiremos
plagiando os EUA e assistindo pela televisão nosso futuro sendo literalmente
fuzilado por um Brasil que está violentamente se americanizando."
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