Estou revendo os meus conceitos sobre determinadas leituras. Mesmo sendo
um cara flexível quanto a determinados livros, me descobri nos últimos anos
nutrindo preconceitos - sempre rasos e desnecessários - sobre o que poderia
ler. Porém, não faço parte do time dos classistas que levantam a bandeira dos
cânones literários para menosprezar outros livros. Longe disso. Apenas olhava
de soslaio para determinadas leituras que me pareciam badaladas demais, ou com
o quê de autoajuda do qual não sou fã, e de fato isso eu assumo. Porém, esse
empedernido leitor costuma, pelo menos no presente, rever certas posições antiquadas
que tinha. Foi o que fiz dessa vez ao ler o livro Me Poupe da jornalista
Nathalia Arcuri.
O título comercialesco já adianta o seu teor: trata-se de um livro para
ajudar pessoas, que assim como eu, não sabem administrar suas finanças. Para
ser honesto, não foi comprado de livre espontânea vontade, mas por pressão
(pressão mesmo) de um colega de trabalho preocupado com os gastos excessivos
que faço diante da minha difícil, mas passageira, situação financeira. No dia,
tinha outros seis livros a mão e me permiti levar o Me Poupe. Contudo, já tinha
ouvido falar tanto da obra quando da autora. Por estar conectado à rede,
acessei rapidamente o canal dela no YouTube. Cheguei a fazer minha inscrição,
mas não tive coragem de ver um vídeo sequer. O medo? De ouvir certas verdades
inconvenientes.
Entretanto, há forças, que costumo chamar de destino, sempre dispostas a
nos expor na face àquilo que temíamos. Então, de posse do Me Poupe, comecei sua
leitura. Como a autora diz, o livro pretende ajudar a quem não sabe cuidar do
próprio dinheiro. O livro é curto, de linguagem levíssima, até com uma dose de
humor um tanto bobo (para o meu paladar), e repleto de dicas, muitas até
praticadas no próprio livro, para que possamos rever os erros que cometemos com
as nossas verbas e aquelas que pretendemos ter. Há indiscutivelmente muita
pessoalidade no livro, talvez para aproximar o leitor de um panorama resolutivo
de suas dividias. Em boa medida isso funciona, porque exemplos precisam ser
partilhados e copiados, mas noutros, não.
Digo isso e já antecipo a primeira falha do livro: sua visão elitista
das finanças. Isto porque, Arcuri se mostra imbuída das melhores intenções - e
não estou duvidando disso -, certamente há nela um propósito maior do que
apenas vender livros ou fazer seu canal no YouTube ganhar novos seguidores. Por
essa iniciativa, sua escrita já merece meu respeito, sobretudo numa nação onde
pouco se discute sobre economia com os mais necessitados. Porém, sua falha está
na disparidade social que é uma das responsáveis pelo endividamento
populacional. Sua origem, apesar de não ser em berço de ouro, está distante da
dê muitos brasileiros que sobrevivem com menos de um salário mínimo por mês. Ou
seja, para quem leu a obra, sabe que mesmo com dificuldades, ela conseguiu ter
uma base satisfatória para poupar, diferente de muitos de nós.
Também considero exagero algumas medidas tomadas por ela para poupar
dinheiro, mas isso diz muito da perspectiva de vida dela que desde menina tem
esse espírito empreendedor. A minha discordância reside nas proporções as quais
poderiam ficar mais equiparadas se fosse levado em consideração outras questões
econômicas não citadas na obra: a desigualdade social, étnica e de gênero que
assume proporções significativas na economia, ou não, de muita gente. Quando
estes prismas são elencados, e devem em se tratando de um país cuja renda
populacional atravessa estigmas históricos sociais incontestáveis, as dicas de
Arcuri ganhariam proporções ainda maiores do que já ganham.
Fora isso, fui lentamente simpatizando com as suas dicas, algumas
coloquei em prática logo após ler as primeiras páginas. Achei massa essa
interatividade e a simplicidade com que ela trata termos técnicos do campo
financeiro. Facilitar a compreensão de certas nomenclaturas ajuda muito na hora
de não entrar numa roubada com o banco. Entre eles, o juro composto foi o que
me chamou mais atenção. Não fazia ideia (eu, e como ela disse, muitas outras
pessoas) de que havia alguma positividade na palavra juros. Sempre os vi como inimigos,
que por sinal tem me acompanhado nos últimos meses. Entretanto, mesmo sem
condições no momento de investir, me senti tentado com essa possibilidade num
futuro próximo.
Além disso, as reflexões trazidas por ela são no mínimo interessantes.
Nos mostram as falhas que cometemos a comprar coisas por impulso (eu sou desse
time), o que podemos fazer para controlar essa impulsão, investir, poupar e
assegurar alguma grana para o futuro. Esse para mim foi o lance maior de Me
Poupe, projetar um amanhã. Faço parte do grupo de milhões que afoga as mágoas
nas compras, que se endivida a longuíssimo prazo e não tem qualquer controle
sobre as próprias finanças, ou seja, um paciente financeiro difícil, às vezes
até irremediável. Todavia, com o tempo, a maturidade e as quedas, estou
paulatinamente revendo essas falhas. Por sorte, comprei à força o Me Poupe e
sinto que não serei mais o mesmo após ele. Na verdade, ninguém é o mesmo após
ler qualquer livro. A palavra e a mudança são agentes transformadores da vida.
Portanto, o Me Poupe de Nathalia Arcuri é um livro interessante, e só.
Não resumo a isso como forma de menosprezo, mas porque foi o meu primeiro
contato com esse tipo de leitura, logo, precisarei de outras para escolher
outro adjetivo para ele. Claro, sou um desajustado das finanças e por essa
razão contumaz a mudanças nesse campo. Precisaria de algo profundamente tocante
para rever bruscamente os meus defeitos. O que Arcuri me proporcionou ao ler
seu livro foi a chance de aplicar parte de suas dicas a minha realidade
financeira guardadas as minhas proporções atuais. Talvez em um futuro próximo
eu precisarei revisitar suas páginas para tirar novos proveitos de suas
instruções. Até lá, Me Poupe me parece um bom guia para encontramos ao nosso
modo os caminhos para escapar das armadilhas que a “dinheirofobia” incute sobre
nós.
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