2010 O Ano dos Gays, O Ano da Homofobia



Está chegando o fim de ano e com ele as tradicionais festas do período. Diante de tantas confraternizações muitas vezes nos esquecemos de fazer uma reflexão de tudo o que aconteceu no cenário nacional. Não falo de uma retrospectiva abrangente, como aquela do programa pelo qual a Globo exibi os fatos marcantes do ano, mas sim uma retrospectiva delimitada, focando um entre os tantos problemas sociais que assolam o nosso país. Para ser mais claro, ressalto os dilemas, conquistas, revelações, agressões e toda uma gana de acontecimentos que envolveram a massa LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e transex) durante este ano. Penso que é primordial fazer esse balanço, não apenas para exaltar a classe em questão, mas também para dar visibilidade aos problemas vividos por eles que, frequentemente são mascarados e/ou distorcidos pela sociedade.

Para inicio de conversa é necessário trazer à tona a visão retrógrada que o Brasil alimenta quando o assunto é homossexualidade. Mesmo sendo um país de evidente crescimento econômico e ricamente culturalizado, ele ainda não está capacitado a tratar de temas que envolvem a sexualidade alheia, pois ainda existe muita resistência em discutir racionalmente esse assunto. Tanto desconhecimento resultou nos atuais casos de violência na Av. Paulista, noticiados nacionalmente. Além disso, o Brasil é uma das poucas nações em desenvolvimento que não garantiram que direitos como o casamento e a adoção entre casais homossexuais saíssem do papel. Enquanto a nação peca nesse aspecto, países como Argentina, dentre outros da América Latina que são inferiores economicamente ao Brasil, deram passos valiosissmos no que se refere aos direitos humanos, criando políticas igualitárias para os gays que viviam à margem da sociedade.

Não obstante, não se pode deixar de ressaltar a pitada cristã nos valores que permeiam a nossa cultura. Sempre falo desse pilar, pois acredito que ele rege as questões convencionais que ditam o que é certo e errado, cravando na cruz aqueles que não se enquadram nos padrões da Igreja. Essa manobra religiosa, na minha concepção, cria máquinas homofóbicas prontas para matar. Num país, onde boa parte da população está acostumada a propagar o discurso do outro sem racionalizá-lo, falar que a homossexualidade é algo medonho é a mesma atitude tacanha que levou milhões de pessoas para a morte na época da inquisição. Para exemplificar isso, há pouco tempo, o reitor da Universidade Mackenzi se pronunciou contra a aprovação do PLC122/2006, baseado em conceitos religiosos limitados e totalmente desconectados da realidade sócio-política-humanistica na qual a legislação brasileira deveria estar respaldada. Esse caso, nada isolado, só confirma a visão preconceituosa e distorcida de uma sociedade que quando fala em garantir direitos aos LGBTTS, prefere se apoiar em cânones obsoletos numa retomada hipócrita de uma moral que nunca existiu.

Entre tantos pontos negativos, não se pode deixar de mencionar os acontecimentos positivos que mexeram com as mentes dos LGBTTs. Um dos mais marcantes foi sem dúvidas a revelação de alguns famosos que viviam escondendo a sua sexualidade. Rick Martin, um dos maiores nomes da música pop mundial, revelou que era homossexual, mas por medo do preconceito que poderia sofrer, passou anos e anos sustentando aquela faixada de galã que o mundo todo conhecia. Não que tenha sido alguma surpresa para a comunidade gay a revelação dele, mas para muitas pessoas heteronormativas foi um choque imenso. O lado positivo disso foi mostrar para a sociedade que a homossexualidade está em todos os lugares e que qualquer pessoa pode ser gay, independente de classe social, raça ou etnia; mesmo sendo gay ela pode ter uma vida social, se casar, ter filhos e constituir família  Outros famosos, como os cantores Tiziano Ferro e o Brasileiro Netinho também saíram do armário, contribuindo para que as pessoas entendessem que a homossexualidade não pode ser vivida as escondidas, ela tem que ser mostrada, entendida e respeitada por todos.

O Brasil está tentando minimizar os problemas enfrentados pelos gays com ações preliminares que tentam garantir que a comunidade LGBTT, que paga imposto, trabalha, estuda e que tem família  tenham direitos iguais a quaisquer outros cidadãos que compõe essa nação. Entretanto, para que essa igualdade seja realmente efetivada, será preciso muitos anos de discussão, pois, como falado a pouco, nossa população não está acostumada a pensar sozinha, consequentemente, acatando opiniões taxativas e mal fundamentadas de pessoas que preferem segregar a incluir os indivíduos considerados “diferentes”.

O ano está acabando e com ele um arsenal de acontecimentos negativos mais do que positivos, fizeram parte da rotina dos homossexuais do Brasil. Agressões físicas  discriminação, preconceito, intolerância, falta de respeito, desumanidade, falta de politicas públicas e todo um mar de homofobia constituíram o painel da realidade dos gays no país. Isso não é demagogia ou um discurso piegas clamando por justiça, é apenas um alerta de um modelo de sociedade que estamos perpetuando para as próximas gerações. Uma sociedade inescrupulosa, hipócrita e irracional que prefere cruxificar os gays ao invés de garantir que seus direitos sejam respeitados.

Vamos fazer com que os próximos anos sejam diferentes. E que venha 2011!

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