O Celibato: Paradigma Religioso da Modernidade





Existem certos dogmas que, na minha concepção, só retardam a solução de alguns problemas sociais. Nesse sentido, eu poderia citar vários exemplos, mas, dentre os tantos, acredito que existe um que já se tornou clichê nos principais meios de comunicação: o celibato. Isto por que, a opção desta prática tem causado inúmeros casos de abuso sexual e pedofilia, por aqueles que usam a palavra de Deus e a igreja para praticar atos libidinosos. É claro que, em se tratando de religiosos, nem todos são pervertidos, porém, o crescente número de reportagens falando sobre a vida dupla desse grupo tem deixado no ar diversas inquietações. Afinal de contas, o que vem a ser o celibato? Qual a sua influência na sociedade pós-moderna? E o que a Igreja Católica, principal instituição religiosa do Brasil, diz a respeito das atrocidades cometidas por religiosos, privados do prazer da carne? Tentarei responder, de forma clara, essas indagações ao longo do texto.

Antes de qualquer coisa, confesso que não tinha muito conhecimento sobre a temática em pauta. Ainda acho que não tenho, mesmo assim, resolvi me aventurar nas areias movediças que sustentam esse tema. Para isso, fiz uma pesquisa e descobri coisas bem interessantes que compartilharei no decorrer deste texto. A primeira descoberta responde a pergunta inicial do parágrafo introdutório. O celibato, na sua definição literal, significa “aquele que se mantém solteiro (a)”. No entanto, popularmente ouvimos a conceitualização de que essa palavra significa a abstenção de indivíduos das atividades sexuais. A escolha por esse modelo de vida acontece por diversas motivações, sejam elas culturais, sociais, biológicas ou religiosas. Esta ultima é o foco central deste texto e sofre grande influência das tradições antigas, arraigadas ao modelo de vida pautado na fé em Cristo, ou seja, entregue a espiritualidade.

No entanto, os conceitos ortodoxos pregados pela Igreja Católica ignoram ou não acompanham o desenvolvimento dos valores da sociedade moderna. Para ela, o celibato é o elo mais próximo entre o homem e Jesus, que, durante toda a sua vida foi solteiro. Esse argumento é muito louvável e até aceitável, se estivéssemos na mesma época em que Cristo viveu. Hoje, pelo contrário, a realidade é outra, sobretudo quando o assunto é sexualidade. Ainda sobre o celibato, não se sabe ao certo em que momento histórico ele foi introduzido pela Igreja, já que existem muitas teorias entre historiadores e pesquisadores que divergem nesse sentido. Entre tantas divergências uma coisa é certa: a prática do celibato tem causado cenas vexaminosas para o núcleo católico em todo o mundo.

Isto por que, constantemente sai nos noticiários alguma matéria que fala de um novo evento polêmico envolvendo religiosos. Acredito que este ano tenha sido um dos piores para Igreja, visto que a cada nova reportagem publicada ela tinha que encontrar argumentos palpáveis para justificar a ação pecaminosa dos seus membros. Padres que assediam/transam com coroinhas; praticam sexo dentro e fora das igrejas, até mesmo com os fiéis; homossexualismo; sodomia; pedofilia; perversão; isso só para mencionar o que os meios midiáticos expuseram durante este ano. Tudo isso vem sendo aos poucos desmascarado e trazido a tona, para que a sociedade e, sobretudo a Igreja, tome uma posição transformadora sobre a questão do celibato. Só para se ter uma dimensão, enquanto eu escrevia este texto, mais um escândalo era divulgado. Desta vez a renomada revista italiana, panorama, cuidou de expor a vida dúbia da alguns religiosos. Na reportagem, publicada no site mundomais (CLIQUE AQUI PARA VER), contava que alguns padres frequentavam boates e bares gls e durante o dia voltavam a comandar as missas matinais normalmente.

O resultado desse paradoxo responde a segunda pergunta feita na introdução, pois é praticamente impossível sustentar certos dogmas, quando o assunto é sexo. Temos que lembrar que os religiosos são homens de carne e osso, ou seja, suscetíveis a erros. Até porque, vivemos numa época na qual a liberdade sexual, em todo o seu âmbito, é cada vez maior e por isso é complicado manter distância das atrativas e sedutoras tentações. Nesse meio, os religiosos (padres, bispos, arcebispos e etc.), não resistem e acabam cedendo a luxúria. Eu acredito que eles sejam as maiores vítimas de toda essa situação, pois, se o celibato fosse destituído definitivamente, com certeza os crimes sexuais envolvendo esse grupo teriam uma significativa diminuição. Ainda respondendo a segunda pergunta, o celibato na atual sociedade é visto como imposição, como regra, e tudo que é impositivo, acaba resvalando para a vala da fraude, da imprudência. Claro que a intenção primária do celibato é a mais positiva possível, visto que a sua ideia é santificar a rotina das pessoas que aceitam viver isolado das atividades sexuais, apenas orando e alimentando o seu espírito para estarem mais próximas a Cristo. Acho linda essa filosofia de vida, mas penso que a obrigatoriedade desse modelo de vida deve ser revisto o quanto antes.

O que é intrigante nesse assunto são os argumentos literários usados para justificar o celibato. Há várias passagens bíblicas que, aparentemente defendem o celibato como algo que mantém uma ligação entre o homem e Cristo. Entretanto, a passagem clássica que diz "crescei e multiplicai-vos", vai de encontro a esse dogma. Para muitas religiões, o celibato não é algo tão impositivo, como por exemplo, os mulçumanos e o Islamismo que não condenam se a pessoa preferi casar e constituir família, ou, se preferi arcar com uma vida de castidade em nome da fé.

Contradições a parte, a posição da Igreja sobre os atos sexuais cometidos pelos seus integrantes é de autodefesa. O que já era de se esperar, pois, em se tratando grandiosidade dessa instituição, o mais correto seria se defender para manter de pé certos paradigmas que sobreviveram até os dias de hoje. Isso responderia o questionamento feito no parágrafo introdutório. A Igreja não quer aceitar, ou preferi classificar como atos isolados de pessoas que tentam denegrir a Santa Fé Cristã, do que assumir que determinados códigos devem ser revistos e/ou modificados. A sociedade, por outro lado, deveria cobrar da Igreja um posicionamento mais firme com relação aos casos citados anteriormente.

Tratar desse tema é mexer com a nossa base sócio-histórico-cultural, da qual somos tão ligados. Eu, como muitos brasileiros, sou contra ao celibato obrigatório, pois penso que este priva o indivíduo de conhecer o intimo do outro. Não falo de maneira carnalizada, mas sim a essência que cada ser humano carrega dentro de si. o contato no ato sexual é algo divino e não pode ser manipulado por dogmas de outrora. Os religiosos têm o direito sim de constituir e de ter uma vida sexual ativa, se assim escolherem, sem serem taxados de pervertidos ou infratores da moral, tão sustentada pelo catolicismo. Em contrapartida, para que isso ocorra, acredito que é necessário reformular o celibato, para que ele se torne algo facultativo. É bem mais coerente deixar a pessoa optar por viver longe dos prazeres da carne, mesmo tendo uma vida religiosa, ou viver inteiramente entregue as causas da fé, consequêntemente distante de tudo que esteja relacionado ao sexo. Têm problemas dos quais a solução é tão simples, mas parece que é da natureza humana complicar as coisas.




Comentários

  1. Realmente você se aventurou nas areias movediças que sustentam esse tema. O celibato é facultativo, a Igreja Católica não obriga ninguém a fazê-lo. Se o padre não quer viver no celibato, é simples, deixe ele de ser padre. Por qual razão deveria a Igreja Católica seguir a modernidade? Deveria ela aceitar o casamento gay? Os dogmas da Igreja permanecem os mesmos há 2000 anos, não seria agora, em plena turbulência social que ela os negariam. Aponte sempre os pontos positivos das coisas que for contrário. Aí é só argumentar contra os pontos positivos e tentar refutá-los. Na próxima eu respondo com a minha conta gmail. Rodrigo - rodrigomsgo@gmail.com

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