Preconceito tá com NADA!

Criar barreiras internas para justificar posicionamentos pessoais sempre fez parte da personalidade da humanidade e dificilmente isso mudará. As pessoas, inerentemente, constroem limitações as quais impedem a aceitação de tudo o que é diferente. Parece que o novo de alguma forma agredi as normas do tradicionalismo, tão arraigado na sociedade, impedindo que novas percepções sejam agregadas ao modelo que, até então, é considerado correto. A esse procedimento, dar-se o nome de preconceito, ou seja, a atribuição conceitual valorativa a algo que não se tem o total conhecimento, resvalando nas práticas discriminatórias conhecidas por todos.
Como se sabe, durante muito tempo os negros foram escravizados, estigmatizados, marginalizados e segregados da sociedade, vivendo de trabalhos forçados nas grandes senzalas. Depois de muita luta, eles conseguiram a tão sonhada abolição, o primeiro passo para uma possível liberdade. Entretanto, mesmo após a assinatura da Lei Áurea, a qual garantia tal direito, os negros ainda vivem sob o prisma do preconceito, guerreando contra a sociedade para assegurar a execução dos direitos que lhe foram atribuídos com a abolição. Hoje, eles lutam para chegar até a universidade, lutam para garantir um lugar de destaque no mercado de trabalho, lutam para desconstruir o estereótipo de marginalidade atribuído a cor de sua pele, lutam para manter vivas as suas tradições que foram furtadas junto com eles de sua terra natal...
Não muito diferente deles, as mulheres também passaram por muitos obstáculos até chegarem ao perfil conhecido atualmente. Antes, a elas era negado qualquer direito, desde voto a assumir cargos públicos. Vivia-se sob o pensamento de que elas se enquadravam no perfil do “sexo frágil” incapazes de transcender a esse rótulo. Os anos foram se passando e muita coisa mudou, de tal maneira que o Brasil conseguiu eleger a primeira mulher “Presidenta” da história do país. Contudo, a estrada para a igualdade dos sexos ainda está longe de ter um fim, uma vez que perdura uma mentalidade machista, colocando o núcleo feminino em segundo plano. A violência contra elas também é latente e só houve uma significativa mudança depois que uma delas ficou paraplégica, dando origem à tão conhecida e necessária Lei Maria da Penha.
Outro grupo de destaque na escala do preconceito é, sem sombra de dúvida, os homossexuais. Eles são conhecidos por burlarem as normas sociais, as quais estão fundamentas numa concepção heteronormativa de vida. É comum ver a associação entre eles e as doenças sexualmente transmissíveis (AIDS), prostituição, promiscuidade e uma série de construções pejorativas que tentam desumanizar essa classe. Entretanto, a homossexualidade não é uma peste moderna. Ela sempre existiu e sempre existirá. O que as pessoas precisam compreender é que a sexualidade humana não é estanque, pelo contrário, é um cristal polissêmico em constante mutação. Por isso, desconsiderar todo um passado antropológico/biológico formador da sexualidade humana é como navegar num mar infindo de ignorância.
E o que falar do preconceito contra as religiões afro-brasileiras. Esse é um dos mais absurdos preconceitos vivos da sociedade brasileira. Um povo que foi trazido à força para uma terra desconhecida, teve sua fé, tradições e culturas destruídas, ainda sim, são considerados satanistas, na terra onde ajudaram a construir. O candomblé, bem como outras religiões, acredita em apenas um Deus e tem como principal meta propagar o bem-estar dos seus seguidores. É pura ignorância tentar confrontar os dogmas dessa religião com a base cristã que construiu o Brasil. Cada ramificação religiosa que aqui chegou tem a sua importância para formação espiritual da personalidade dos brasileiros. Não há religião melhor ou pior, ou uma que leve a Deus mais rápido do que outras. O que existe é fé e esse sentimento anda lado a lado com o respeito, outro sentimento do qual, lamentavelmente está em falta no país.
Por tudo isso, como é difícil entender algo que não compreendemos. Seja uma cor de pele diferente das demais, uma orientação sexual que foge dos padrões ou até uma forma de pensar e agir da que não estamos acostumados a ver e ouvir. A verdade é o diferente sempre vai existir para confrontar as “verdades” solidificadas dentro de cada um de nós. Não há pessoa sem preconceitos e nunca haverá, mas têm certos preconceitos que podem ser quebrados se cada um permitir que isso aconteça. Por isso, só nos resta fazer constantes questionamentos sobre a nossa posição no mundo e de que forma nós contribuímos para que ele se torne um lugar melhor, mais tolerante e respeitável.

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