Ontem conversando com o amigo sobre sexo e as atraentes variações deste tema, ele começou a me confidenciar que estava a um bom tempo sem um parceiro fixo e, consequentemente sem praticar sexo. Curioso, perguntei como ele se virava nos momentos de desespero, quando a vontade de transar surgia de forma avassaladora. Ele prontamente me disse que além da masturbação, tradicional entre os homens, buscava em determinados ambientes os meios de canalizar a sua carência sexual com garotos de programa, e nesse momento ele proferiu a seguinte frase: “não busco relações afetivas, apenas prazer rápido e prático”. Dessa premissa, meu cérebro tratou de traçar alguns silogismos sobre tal máxima. Ora, será que o sexo, mesmo aquele que é feito por dinheiro, não há prazer? Até que ponto a atmosfera da prostituição consegue fingir orgasmos ao ponto de levar seus clientes ao êxtase sexual? E outras perguntas começaram a fervilhar no cadeirão da minha mente, a qual rapidamente elaborou uma resposta para isso: não há sexo por dinheiro. Na verdade, o que há é a inaceitação dos nossos prazeres e a comercialização da liberdade de externá-los.
Nesta sociedade do consumo, onde somos abrigados a viver e seguir determinados padrões, não é de se admirar que as vendagens vão além da esfera dos objetos inanimados. Vendemos hoje corpos e dele extraímos o prazer necessário para suprir nossas carências mais profundas. O mercado da prostituição, por exemplo, exerce muito bem esse papel, já que regularmente e com total desprendimento vem prestando seus serviços a pessoas que buscam em bordeis, puteiros, saunas, ruas, dentre outros ambientes onde a luxúria pode reinar absoluta, a satisfação necessária da qual só o dinheiro é capaz de comprar. No entanto, dando outro enfoque para tal questão, acredito que nem sempre se vende o corpo por necessidades econômicas, mas sim por um ato de transgressão, o qual tentar romper com o que está preestabelecido e trazer à tona aquilo que de fato todos nós somos: animais selvagens, irracionais e altamente carentes quando o assunto é sexo. O preço por essa liberdade, porém, é alto, capaz até de aprisionar inconscientemente todos os envolvidos nesse calabouço e com eles os seus instintos mais lascivos.
Numa explicação mais direta, a nossa sociedade aprendeu que não se pode exteriorizar os prazeres que sentimos, pois tal ato pode ser visto de forma pecaminosa pela nossa tradição religiosa, a qual tem encarcerado os nossos prazeres sexuais, penitenciando aqueles que transgridam as regras. Desta acepção também surge à ideia das relações monogâmicas e, consequentemente o repúdio pelas relações extraconjugais. Nesse meio, então, o sexo é sentenciado a ser praticado em quatro paredes e das formas mais convencionais possíveis, estas, (pré)estabelecidas por um sistema de moral e bons costumes vigilantes. Acontece que o ser humano não conseguiu com isso conter a selvageria natural da própria espécie quando o assunto é sexo. Por isso que buscamos a liberdade que nos falta, neste sentido, nos prostíbulos fechados ou aqueles que estão abertos, expostos em ruas e avenidas das grandes cidades. Neles há o que de fato somos: seres instintivos, desnudados dos falsos moralismos e em busca de uma cópula que nos dê o prazer que nos foi, e ainda é, roubado por essa sociedade que educa e vê o sexo como tabu.
Por isso que o número de homens casados e “héteros” que procuram nas prostitutas, garotos de programa e travestis uma válvula de escape sexual não para de crescer e nunca irá parar. As mulheres também têm buscado novas companhias fora das relações conjugais, visto que hoje elas se sentem mais seguras para exteriorizar suas fantasias e se realizarem sexualmente. E isso não deveria ser visto como promiscuidade, uma vez que o que esses seres humanos querem é ser livres para gozar literalmente de suas preferências sexuais sem o crivo do preconceito social hipócrita que guilhotina a vida alheia durante o dia, mas no cair da noite se esbalda nas mesmas práticas ou em outras realmente imorais e depreciativas a espécie humana. Na realidade, não estou querendo defender a prostituição nem torná-la aceitável aos olhos dos outros. Apenas acredito que a visão pejorativa que temos dela é uma mera ilusão criada por uma educação sexista que nos furtou o direito da plena liberdade sexual, construindo, então, seres zumbis, capazes de qualquer coisa, até pagar por algo que não tem preço.
Por isso que o mercado do sexo é um dos mais milionários do mundo, porque a indústria pornográfica, sabendo dessa lacuna criada pela própria sociedade, trata rapidamente de criar inúmeros atrativos para, no mínimo, diminuir as carências humanas neste sentido. Então, filmes pornôs, sex shoppings, sites, casas de massagem etc., brotam como verdadeiras ervas daninhas entre o roseiral ilusório germinado por aqueles que insistem em anular o que não pode e nunca será anulado, os desejos humanos. O problema é que a comercialização do sexo dá a impressão de que estamos comprando prazer, como se este fosse algo novo, diferente e que só em ambientes específicos e com pessoas diferentes nossos fetiches serão plenamente realizados. O que não é verdade, pois a satisfação sexual sempre existiu, mas entrincheiramo-la com uma barreira armada de ideologias tortas. Desse modo, nos enganamos com a ideia da compra do sexo, como se este fosse um objeto pronto para o consumo, quando na verdade ele pode e deve ser “consumido” sem qualquer cifrão.
Daí a minha tese de que a prostituição tem uma extrema importância para nós, pois ela nos diz quem de fato somos na hora da cama. Não falo da prostituição econômica, a qual obriga menores de idade e outros indivíduos e ingressar nesse mundo. Falo daquela que é feita por livre arbítrio e que satisfaz os desejos de homens e mulheres diversos, os quais transgridem as normas prescritas por essa educação conservadora impelida pela sociedade e vão à busca da felicidade sexual deles, a qual pode incluir chicotes, mordaças, homens e mulheres fantasiados, travestis ou garotos de programa e até mesmo troca de casais, por que não?! A prostituição, portanto, configura-se como a desconstrução dessa redoma hipócrita que criamos em torno do sexo, ao ponto de externar as nossas fragilidades sobre esse assunto e como somos animais quando estamos transando. Pena que para realizar nossos anseios sexuais, temos que pagar a putas, michês e outros profissionais do sexo, quando seria muito mais fácil aceitar a nossa condição natural de animais que precisam copular, livres de qualquer preconceito ou condenação capaz de encarcerar algo tão gostoso quanto o sexo.
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