Nem faz muito tempo assim, eu estava assistindo ao vídeo
feito pelos maravilhosos integrantes do Porta dos Fundos intitulado de Escola
sem Partido. Nele, aparecia uma professora sendo interrogada pelos alunos a se
posicionar sobre questões cada vez mais delicadas no país ligadas a história
nacional, ao passo que a turma toda, aparelhada com o que há de mais moderno em
tecnologia, filmava o posicionamento da docente. Na ocasião, dei jubilosas
risadas da comicidade envolta naquela ideia, mas não imaginava que o cômico tão
rapidamente ganharia ares trágicos. Todavia, como a arte imita a vida, nos
dramas reais, professores passaram a sentir o peso da sensura desse governo
desgovernado que rege a nação.
Há poucos dias, um educador perdeu o emprego após passar pela
mesma situação teatralizada pelo Porta dos Fundos, em que critica em sala a
postura, indiscutivelmente criticável, do presidente (em minúsculo mesmo) Jair
Bolsonaro. Senti um misto de raiva e indigestão quando li essa matéria. Aliás,
a cada posicionamento do atual governante da nação, eu preciso fazer um mantra,
ressuscitar o meu nirvana, preparando-me para a enxurrada de absurdos que
sairão da fossa que ele tem na boca. Pois bem, como porcos não costumam andar
sozinhos, a horda de malucos na política escolheram a educação como o epicentro
dos seus ataques.
O impronunciável Ministro da Educação, seguindo a mesma
retórica insana da presidência, foi categórico ao legitimar o direito dos
alunos em filmar professores em sala de aula como um direito dos discentes.
Pouco antes disso, Bolsonaro usa o twitter, sua principal rota de envio de
barbaridades virtuais, para inferiorizar os cursos de humanas e enaltecer a
leitura e a escrita; algo, diga-se de passagem, incongruente, pois o que menos
tem sido feito pela corja no poder é uma leitura interpretativa da realidade.
Voltando à vigilância eletrônica endossada pelo governo, percebemos, ou
deveríamos, qual é a meta por trás desse cinema retrô: emudecer a educação.
Ao aprovar o novo ensino médio, implantar a educação
domiciliar e vetar a educação sexual nas escolas, paulatinamente a intenção
desses políticos é silenciar os alunos por meio da castração do saber crítico,
o qual é autônomo por excelência. Agora o alvo mira em cheio nos educadores.
Por meio de uma conduta clara de intimidação, espera-se subserviência dos
docentes, os quais terão a passividade em suas aulas como artifício pedagógico,
caso queiram permanecer em seus cargos. O tiro de misericórdia já está sendo
engatilhado. Em mais um ataque ao saber, Bolsonaro começa a semana afirmando
que mudará o patrono do Brasil, o educador mais respeitado do mundo, Paulo
Freire, por outro aos moldes do governo. Talvez ele opte por Olavo de Carvalho,
um total desconhecido das academias sérias brasileiras, de formação duvidosa e
cheio de demagogia alienante, usada a torto e a direito para a chegada da
burrice ao poder.
Nada mais justo do que substituir um grande pensador por um
perturbador da ordem pública numa era onde o pensar deixou de ser ação para ser
ofensa. Entretanto, já que a luz, câmera e ação (leia-se perseguição) estarão
nos curtas metragens dos dramas educacionais brasileiros, antes do professor
ser o protagonista desse cinema pornô, é preciso destacar o vilão da história,
o governo. Aos alunos co-diretores, que compactuam com tamanha obscenidade,
gravem a falta de estrutura das suas escolas, carteiras quebradas e/ou
insuficientes; material defasado, atrasado e revisado por uma política de
apagamento da história. Filmem a violência escolar, o bullying, as armas,
drogas e todas as balas perdidas desferidas pela sociedade do dedinho apontado.
Não se esqueçam de registrar em close a feição de fome dos
seus colegas, o déficit na aprendizagem que decorre disso, o abandono de muitos
responsáveis que delegam ao professor o papel de pai e mãe. Se der, façam ainda
um slow motion dos ataques de seus colegas desrespeitosos aos seus docentes,
mostrando ao presidente quem são as reais vítimas da deseducação do país. Por
fim, aos com celulares mais chiques, aproveitem e façam um plano sequência de
vocês mesmos falando diretamente ao presidente da nação sobre o que falta para
que a educação seja de fato de qualidade.
Talvez assim com algo gravado por vocês ele dê ouvidos às
necessidades no ensino, já que os apelos dos profissionais da área e as teorias
de pessoas renomadas são ignoradas por ele. Quem sabe não rola uma premiação,
hein?!Garanto que o cenário escolar brasileiro, se dirigido por alguém sério,
levaria um Oscar na categoria drama, quiçá comédia. Enquanto não há nada de
artístico nisso, vemos estarrecidos o amadorismo governar o Brasil, em
detrimento daquilo que perdeu seu status quo na sociedade, a livre expressão do
pensamento. Que venham os grilhões!
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